quarta-feira, 30 de novembro de 2022

Confesso ser racista.

Venho publicamente confessar que sou racista. Racista, xenófobo, islamófobo... Tudo.

Não consigo evitar. Tento ser o mais cordato com toda a gente que encontro. Mas no fundo, desconfio de todos os que não são da minha tribo. Aliás, até desconfio dos da da minha tribo.

Outro dia fui ao El Corte Inglês. Estava a subir no elevador. Num dos pisos, entra um casal nórdico, bem vestido, calmos. Deviam ter uns sessenta e tal. Enormes, laranjas, envoltos em gordura. Até a testa era gorda. Um chapéu com cornos à viking não lhes ficava mal. Se um dia estivesse perdido no país deles e chegasse a uma aldeia, não punha de lado a hipótese de prenderem-me e sacrificarem-me ao Deus deles. Ou pior. Sei lá. Não sei o que esta gente pensa ou faz. E eles são caucasianos como eu. Eles da Europa do Norte, eu do Sul. Portanto, se sou desconfiado de pessoas da minha raça, também sou de outras raças. E digo raças, culturas, costumes, religiões...

Estou só a ser honesto. E não sou só eu que sou assim. Toda a gente é. Identificamos cada grupo de pessoas com o pior que essas pessoas fazem. E desculpamos os mais parecidos connosco porque nos desculpamos a nós.

Vou a andar pela rua e vejo um conjunto de ingleses, penso "Raio de hooligans. Vão vandalizar a vossa terra!". Vejo um conjunto de Africanos e penso, "Se os brancos são assim tão maus, o que é que vocês fazem aqui?" Chineses? "Vai comer morcegos para longe de mim!"  

Quanto mais diversa for uma sociedade, com maior número de raças, culturas, religiões, com costumes que uns têm e os outros simplesmente não conhecem ou não gostam, maior será a desconfiança, maior será a reivindicação de uns para fazerem coisas que os outros não aceitam, maior será a disputa pelos direitos de uns e submissão de outros. E como macacos que somos, as coisas acabam por se resolver à batatada.

A único solução que vejo é uma completa separação. Vamos juntarmos-nos em grupos cada vez mais coesos. Em que cada grupo toda a gente será da mesma raça, toda a gente conhece e aceita a religião e os costumes dos outros porque são também os nossos.

E quando estivermos juntos, felizes por finalmente termos atingindo a igualdade e compreensão entre nós, vamos falar sobre o quanto odiamos as pessoas da próxima aldeia, do país ao lado, do continente mais longe. E vamos unir-nos para matar esses cabrões todos. Do velho mais caquéctico em coma ao último recém-nascido.



terça-feira, 29 de novembro de 2022

Pílula do Dia Seguinte

 Pílula do dia seguinte para mulheres.


 Pílula do dia seguinte para homens.



White Privilege - Privilégio Branco

Então os brancos devem sentir-se culpados por terem construído uma sociedade segura e confortável para eles próprios?


quarta-feira, 2 de novembro de 2022

Noite de Halloween

Na noite passada tocaram à porta. Abri e vi uns quantos miúdos, ou vestidos de forma absurda, ou mascarados de qualquer coisa que não percebi o que era. Doce ou travessura, disseram eles. Ah, é o Halloween, pensei. Não sabia que em Portugal já era um costume. Querem doces, não é, perguntei. Sim, responderam. Vou ver o que tenho. Fui à cozinha mas não achei doces. Não como doces. E não sou americano, por isso não estava à espera da visita. Faço o quê agora? Coloquei três cebolas dentro dum saco de papel e fechei. Levei-lhes o saco. Aqui têm. Obrigado, disseram os miúdos e partiram.