Era o principio da noite e eu estava a passear os cães. Numa rua vejo um estafeta de entrega de comidas, daqueles empresas multinacionais que tem app e anúncios na televisão. O estafeta vem de bicicleta e aproxima-se de mim.
- Boa noite, diz ele num português com forte pronúncia estrangeira.
Pelo aspecto era do subcontinente indiano.
- Boa noite, respondo eu.
- Muito cansado. Vim agora do Brasileiro. Dez minutos. Muito grande. Muito cansado, diz-me o estafeta.
As ruas onde estamos são íngremes, grandes subidas, depois descidas. Só pode estar cansado.
- E ainda por cima anda de bicicleta, respondo eu solidário com a situação.
- Não é isso. Muito grande. Muito cansado. Dez minutos.
Não estava a perceber o que o homem queria e comecei a afastar-me. Mas ele segue-me montado na bicicleta e coloca-se ao meu lado.
- Dez minutos. Muito grande.
Eu páro. Olho para ele. Ele começa a fazer um gesto como se estivesse a fazer festas na cabeça dum cão invisível. E continúa:
- Muito grande. Dez minutos.
- Olhe, desculpe, não estou a perceber o que quer, disse eu já um pouco aborrecido.
- Estive a fazer sexo com o Brasileiro. Dez minutos Muito grande.
- Está bem, escapa-me da boca.
- Você mora onde?
Eu já estava na rua onde vivia.
- Ah, longe.
Recomecei a andar. Ele, de bicicleta, coloca-se à minha frente.
- Muito grande. Mas eu gosto. Você não?
- Não, respondi eu de forma enfática.
Passo por ele e sigo pela rua. Estou quase em frente à minha porta. Olho para trás e vejo que finalmente ele deu meia volta e foi-se embora.
Bom, agora já sei. Para além de receber comida em casa também posso receber uma doença venérea.